Crônica incompleta

Pedro acreditava ser amor aquele sentimento que carregava em seu peito. Talvez fosse coisa de sua cabeça. Na verdade, pouco entendia sobre o que a vida lhe fazia sentir, mas também não queria compreender. Olhava com uma admiração tão grande a beleza no coração de Marcela, que às vezes tinha vontade apenas de parar o tempo para poder contemplar um pouco mais aquela obra em movimento.

A ternura da menina lhe provocava um tremor por dentro.  São tantas coisas que acontecem quando os olhos se encontram com a alma do outro que a gente não consegue descrever. Era possível até fazer um poema, mesmo ele sendo atrapalhado com as palavras. Quem sabe um dia nascesse uma poesia meio torta, sem preocupação com a literatura. Mas ela seria certamente cheia de sentido.


Por sua simplicidade em querer bem, Marcela continuava ingênua, sem perceber o carinho que estava nos lábios e no corpo de Pedro. Ele queria ter coragem para contar-lhe de seus desejos além dos abraços. Quem sabe sentir de perto a respiração e o pulsar descompassado. Estudar juntos o dia inteiro era um martírio para o jovem, pouco acostumado com romances. A biblioteca mal iluminada não ajudava em nada sua concentração nos livros.


A matemática perdia toda a lógica com Marcela ao lado. Os números não são exatos quando a gente descobre essa filosofia barata que o amor ou a paixão traz. Pedro estava demasiadamente inspirado e nem conseguia pensar nos cálculos que precisava estudar para as provas finais do primeiro período da faculdade. Como seria fácil se ele fosse da área de humanas e tivesse facilidade para comunicar o que estava na garganta...