Abri os olhos, logo após acordar com o barulho de uma sirene
vindo da rua. Olhei para o lado e fiquei imóvel por alguns segundos, apenas
observando o meu mundo entre quatro paredes. O quarto estava uma bagunça. O
cheiro de comida velha se misturava ao das roupas sujas espalhadas pelo chão. A
imagem não era das mais otimistas, mas, na verdade, não queria pensar em nada.
A cabeça doía um pouco. Provavelmente, resultado de todas as bebidas
da última noite. Não lembrava sequer o que havia tomado, mas serviu para ajudar a afastar todos os pensamentos que me atormentavam. Por ora, tinha sido
bom. O dia seguinte é que sempre vem mais depressivo. É como estar perdido em seu próprio
espaço e não ter ninguém para resgatá-lo.
Peguei o último pedaço de pizza que havia sobrado na caixa. Estava
fria e sem gosto, com a massa já ultrapassada. Faltava-me coragem para levantar
e procurar qualquer alimento fora do quarto. Próximo da cama, algumas garrafas
de cerveja e vodka espalhadas denunciavam a situação. Beber se tornou meu
refúgio quando me sinto sufocado pelo passado.
Comi lentamente sem saborear o que passava pela minha boca.
Eram movimentos automáticos, somente para ajudar na digestão. Procurei ao meu
redor e encontrei uma sobra de refrigerante quente e sem gás em uma das latas.
Virei goela abaixo para descer o alimento entalado. Mais uma atitude sem raciocinar, um reflexo natural, como qualquer animal faria.
As manhãs de domingo se tornaram as mais difíceis. Acordar
sem tê-la aqui do lado é uma tortura interminável. Não poder sentir seu cheiro nos
cobertores, depois desses dois meses de saudade, me provoca uma sensação estranha.
É como se finalmente eu estivesse te perdendo. Os últimos sinais da sua
presença foram apagados lentamente pelas noites, ao mesmo tempo em que me afogo
nesta solidão de homem que não aprendeu a perder.
Reviro de um lado para o outro, numa reação para sacudir a
sua imagem da minha cabeça. Confesso que às vezes sonho que estou dormindo
abraçado contigo. Me vejo acariciando suas curvas sensíveis e tocando o seu cabelo
longo, espalhado pela cama. É a parte mais dolorosa, pois sei que ao despertar
toda a fantasia será interrompida pela realidade.
Durante a semana a vida é mais fácil. Fico ocupado com o
trabalho e tantas outras desculpas que encontro para ficar afastado de casa.
Mas os fins de semana sempre chegam, mesmo contra a minha vontade. Este não
será o último. Nem sei quando eles deixarão de ter esse sabor agridoce da
tristeza. Pode ser que eu mereça mesmo um sofrimento
silencioso.
Recordo da última vez que nos vimos. Você fechou a porta
depois de falar tantas coisas. Eu respondi grotescamente, com esse meu jeito
insensível de te machucar. Jurava que algumas horas depois você estaria de
volta, para conversarmos sem a exaltação do momento e acertarmos os pontos, desatar os nós. Contudo, isso não
aconteceu e restou apenas o meu desejo de ter te abraçado forte e pedido desculpa,
sem agir como um completo idiota.
Já passam das dez e continuo deitado. A dor de cabeça está
ainda mais intensa. As lembranças são agulhas finas a cutucar internamente cada
canto do meu cérebro. Creio que a ressaca também ajuda nesse processo. Fecho
os olhos e imagino o que estará fazendo agora. Deve estar com alguém te
abraçando, feliz. Viro para a parede e cubro todo o meu corpo, numa tentativa infantil
de me proteger dessa ideia. Aos poucos, volto a dormir para passar as horas...
É apenas mais um dia.
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