#ShortTalks


"_Ohh, wait! Isn't this just a dream?", asked the boy to that old man.
"_I suspect this is reality, my son...", replied the ancient.
"_But what about all those weird feelings I got?", questioned him again.
"_They can eventually happen in real life as well".
"_If this is not a dream, when will it stop?", kept the young guy.
"_It doesn't stop, it just change the level", said calmly.
"_What if I don't wanna feel it anymore?", he wondered, confused.
"_There is no option. You were born...", said ironically with a smile.
"_This is a crazy world tho..."
"_That's it. You finally realized it", finished the man, leaving the scene.

Image: HD Wallon

#ShortTalks - Do you feel that?

_ My dear, you hardly ever show your feelings to me!
_ But I don't even know if I've got feelings...
_ Ah, please, do not say such a thing.
_ Would you be happier if I lie to you?

Quando deixei de ser humano

Foi numa noite de novembro,
Quando eu vigiava as estrelas brilhando
Naquele céu de primavera com cheiro doce
Que eu percebi as primeiras mudanças.

Deixei de ser humano e me tornei abstrato.
Não como quando morremos,
Pois ainda estou vivo e vagando
Mas não tenho mais sentimentos, apenas sonhos.

Acho que virei animal irracional, com algumas diferenças
Quem sabe sou um cachorro, uma larva ou um morcego
Desses que gostam de andar pela cidade à noite
E cheirar as feridas alheias de quem não pode fugir.

Perdi toda a humanidade olhando para o infinito.
Tive o propósito de assim ser, abandonando o antigo
Porque o humano tem o seu limite muito curto
E o universo é grande demais para eu não querê-lo todo.

Cálculo astrológico




Débora pegou mais um bombom na caixa ao lado da cama e abriu para devorá-lo, enquanto tentava se concentrar no material de estudos que precisava revisar para a prova do dia seguinte. A ansiedade lhe tomava conta e, como sempre, trazia sintomas paralelos, a exemplo da dor de cabeça. Mas ela tinha que se dedicar, ou não obteria a nota necessária para passar no exame, o último da faculdade antes das merecidas férias.

Cálculo nunca foi o seu forte. No período anterior, livrou-se da disciplina na “tábua da beirada”, como costumava dizer sua mãe. Agora, mais uma vez, aqueles números e fórmulas vinham lhe tirar o sono. Teria que conseguir 23 pontos em 30. Não parece tarefa difícil, mas quando se trata da maldita matemática, tudo pode acontecer. De exato só há o título. Bastaria um descuido para ter que refazer toda a matéria.

Ela abriu o caderno e começou a reler o que havia estudado ao longo dos últimos seis meses. Logo nas primeiras páginas, percebeu alguns rabiscos no canto da folha. Forçou a mente na tentativa de lembrar o que havia escrito. Não era conteúdo referente à aula. “Levar o cartão do Pedro”, em letras pequenas, foi um lembrete feito para ela mesma não se esquecer do presente que iria dar ao novo romance. 

Não rendeu muito. Pedro e Débora eram de signos opostos, sem ascendentes que ajudassem. Pelo menos foi como sua amiga, a mística Fernanda, a ajudou a entender o desandar do caso, após três meses de um quase-namoro. Talvez os astros realmente não tivessem colaborado. Ainda mais com um menino tão avoado quanto ele. Parecia que vivia no mundo da lua o tempo todo.

Ela até que gostava do “ficante”, mas ele tinha um jeito estranho – como boa parte dos estudantes de Humanas - desaparecia e não dava notícias por uma semana. Já Débora era menina carente, daquelas que gostam de presença, presentes e carinho. Tinham se passado dois meses desde que pararam de se encontrar, mas o coração às vezes ainda acelerava ao pensar nele. Mulher tem dessas  coisas. Um dia ou outro tudo se ajeitava no seu devido lugar.

Após as recordações, voltou a direcionar a atenção ao que realmente importava: os estudos. Revisar Cálculo era praticamente uma tortura. Nessas horas ela se perguntava: “porque fui escolher Engenharia¿” Não era a primeira vez que se questionava sobre o assunto. Já tinha pensado em desistir do curso uma vez, só não o fez pela pressão da família.

No fundo, Débora gostava dos números. Era mais fácil lidar com eles do que com as palavras. Pelo menos as contas tinham uma fórmula. Bastava aprendê-la – o mais complicado até então – e, depois, aplicar nos devidos momentos. Seria tão bom se tudo na vida pudesse ser daquele jeito. Imagina se ela conseguisse entender o Pedro apenas utilizando uma calculadora científica! Mas não dava...

Meia hora depois, largou o caderno de lado e resolveu ligar para a Fernanda. Do outro lado da linha, a amiga respondeu prontamente: “Ei Deh, boa tarde!” No tom de voz, conseguiu perceber o estresse da colega. “Você acha que eu deveria ligar para o Pedro?”, perguntou logo de cara. “Claro que não. Porque isso agora?”, cortou as chances. “Nada não, deixa pra lá... Beijos!” Encerrou a conversa e desligou. 

Mal sabia ela que a amiga – e não os astros – tinha sido a razão para o término do principio de relacionamento. Fernanda se envolveu sem querer, mas depois não fez questão de evitar.  O menino tinha aquele ar de nerd, barba por fazer, exatamente como ela gostava. E, no fundo, ele e a Débora não davam muito certo mesmo. A menina era um pé no saco, sonsa, mal a suportava na faculdade. Agora, com ela e o Pedro, a situação era bem diferente. Os dois se encaixavam perfeitamente. 

Ela não conseguia imaginar como ficariam as coisas quando o caso deles fosse descoberto. Na verdade, sua vontade era dar as mãos com o Pedro e sair por aí como namorados. Uma pena ter que esperar a poeira abaixar... Até lá, era torcer para que a outra não suspeitasse de nada e trabalhar para mantê-la longe do garoto. Não dava para correr o risco de deixá-la tentar conquistá-lo novamente. Pelo menos o semestre estava acabando e não precisaria ver a chata diariamente.

Sobre os homens e os poetas




Não há tristeza maior do que a lágrima de um homem. 
Mulher chora por qualquer motivo, até sem razão. 
Mas homem, quando soluça, é porque a dor é profunda, já incontrolável.

Valorize sempre que um deles deixar o pranto rolar. 
Saiba que é sincero, brotado do coração. 
É o momento em que o sentimento fala mais alto do que o orgulho.

Só há uma exceção: os poetas.
Passe longe destes, minha querida. 
Eles sabem até mesmo fingir amor e paixão.

Não dê ouvidos quando chegarem com palavras doces, 
poesias serenas ou canções cheias de emoção.
É pura malandragem.

Essa espécie masculina não merece confiança. 
Digo mais: por pouco, teriam nascido mulheres,
De tão bons que são na arte da enganação.

Sem resposta




O telefone tocou insistentemente, até uma voz eletrônica informar que a ligação foi direcionada para a caixa postal. Deve ser a centésima vez que tento falar contigo, e o silêncio é a única resposta do outro lado. Estes últimos dias foram estranhos, com essa confusão tomando conta de mim. Não é necessariamente tristeza, mas uma angústia misturada à ansiedade.

Queria poder escutar sua voz doce e calma novamente. Mas acho que não mereço. Disse tanta bobagem para você. Sabe aqueles momentos em que a gente caminhava juntos, entre um ponto e outro da nossa vida? Sinto falta da sua presença, de te encher a paciência até ficar nervosa e comentar que não iria falar comigo. A sua cara de brava me deixava ainda mais apaixonado. Fazia tudo de propósito, para despertar algum sentimento no seu coração.

Nunca dissemos o que se passava em nossa cabeça. Teve um dia, lá pelo fim do inverno, quando sentamos no banquinho de um parque e você falou de um jeito sério comigo. Foram palavras de verdade, cortadas apenas pela insegurança e o medo, facilmente percebidos nos teus olhos. Contou-me sobre algumas mentiras que havia me dito e o quanto eu era importante para você.

Outro momento que não esqueço foi da noite quando bebemos até ficarmos loucos. Depois você veio dormir comigo, timidamente. Deitado ao teu lado, não sabia por onde começar. Primeiro dei um beijo na sua testa, pois dizem que isso é sinônimo de respeito. Depois tentei te abraçar, mesmo eu sendo todo desajeitado. Fomos quebrando as barreiras aos pouquinhos e, por fim, fizemos amor como eu nunca tinha sentido.

O sabor da sua boca grudou na minha memória. O cheiro do seu cabelo encaracolado ainda permanece em mim na forma da saudade. Ao mesmo tempo em que aquele momento intensificou ainda mais a minha paixão, me deixando perdido entre as suas curvas, parece que foi o instante no qual eu te afastei de mim. 

As semanas se passaram, eu sonhava em te beijar novamente e poder te apertar entre os meus braços. Queria te proteger, ensinar coisas novas e mostrar como eu via o mundo de um jeito bonito. Você disse “depois a gente se vê”. A distância foi aumentando, a minha dor crescendo e você permaneceu em silêncio.

De vez em quando a gente se encontrava, dizia algumas palavras desconectadas, tentava desviar o olhar e seguia a vida. Eu arrisquei te esquecer, procurei outros sorrisos. Mas sempre ao deitar é a sua imagem que invade a minha cabeça. Persistente, te liguei sem parar nas últimas horas, deixei dezenas de mensagens e o retorno foi, em todas elas, o vazio. Tão estranho ser obrigado a apagar as esperanças do coração. Talvez esse espaço vago aqui dentro sirva para cultivar alguma outra emoção...

O amanhecer é a hora mais difícil na solidão de um homem




Abri os olhos, logo após acordar com o barulho de uma sirene vindo da rua. Olhei para o lado e fiquei imóvel por alguns segundos, apenas observando o meu mundo entre quatro paredes. O quarto estava uma bagunça. O cheiro de comida velha se misturava ao das roupas sujas espalhadas pelo chão. A imagem não era das mais otimistas, mas, na verdade, não queria pensar em nada.

A cabeça doía um pouco. Provavelmente, resultado de todas as bebidas da última noite. Não lembrava sequer o que havia tomado, mas serviu para ajudar a afastar todos os pensamentos que me atormentavam. Por ora, tinha sido bom. O dia seguinte é que sempre vem mais depressivo. É como estar perdido em seu próprio espaço e não ter ninguém para resgatá-lo.

Peguei o último pedaço de pizza que havia sobrado na caixa. Estava fria e sem gosto, com a massa já ultrapassada. Faltava-me coragem para levantar e procurar qualquer alimento fora do quarto. Próximo da cama, algumas garrafas de cerveja e vodka espalhadas denunciavam a situação. Beber se tornou meu refúgio quando me sinto sufocado pelo passado. 

Comi lentamente sem saborear o que passava pela minha boca. Eram movimentos automáticos, somente para ajudar na digestão. Procurei ao meu redor e encontrei uma sobra de refrigerante quente e sem gás em uma das latas. Virei goela abaixo para descer o alimento entalado. Mais uma atitude sem raciocinar, um reflexo natural, como qualquer animal faria.

As manhãs de domingo se tornaram as mais difíceis. Acordar sem tê-la aqui do lado é uma tortura interminável. Não poder sentir seu cheiro nos cobertores, depois desses dois meses de saudade, me provoca uma sensação estranha. É como se finalmente eu estivesse te perdendo. Os últimos sinais da sua presença foram apagados lentamente pelas noites, ao mesmo tempo em que me afogo nesta solidão de homem que não aprendeu a perder.

Reviro de um lado para o outro, numa reação para sacudir a sua imagem da minha cabeça. Confesso que às vezes sonho que estou dormindo abraçado contigo. Me vejo acariciando suas curvas sensíveis e tocando o seu cabelo longo, espalhado pela cama. É a parte mais dolorosa, pois sei que ao despertar toda a fantasia será interrompida pela realidade.

Durante a semana a vida é mais fácil. Fico ocupado com o trabalho e tantas outras desculpas que encontro para ficar afastado de casa. Mas os fins de semana sempre chegam, mesmo contra a minha vontade. Este não será o último. Nem sei quando eles deixarão de ter esse sabor agridoce da tristeza.  Pode ser que eu mereça mesmo um sofrimento silencioso.

Recordo da última vez que nos vimos. Você fechou a porta depois de falar tantas coisas. Eu respondi grotescamente, com esse meu jeito insensível de te machucar. Jurava que algumas horas depois você estaria de volta, para conversarmos sem a exaltação do momento e acertarmos os pontos, desatar os nós. Contudo, isso não aconteceu e restou apenas o meu desejo de ter te abraçado forte e pedido desculpa, sem agir como um completo idiota.

Já passam das dez e continuo deitado. A dor de cabeça está ainda mais intensa. As lembranças são agulhas finas a cutucar internamente cada canto do meu cérebro. Creio que a ressaca também ajuda nesse processo. Fecho os olhos e imagino o que estará fazendo agora. Deve estar com alguém te abraçando, feliz. Viro para a parede e cubro todo o meu corpo, numa tentativa infantil de me proteger dessa ideia. Aos poucos, volto a dormir para passar as horas... É apenas mais um dia.

Desses amores impróprios e fora das páginas de romances




Desde o início, eu só queria escrever um romance que não fosse estragado. Daqueles com gente sorrindo, feliz e apaixonada. Mas confesso que seria forçar muito a minha literatura moldada por experiências tão reais e cruas. Talvez o que você espera seja mesmo um pouco de fantasia, para fugir dessa sua vida cheia de desencontros.

Minha primeira ideia era retratar um casal à espera do primeiro filho. Acho bonito isso de família, mulher reproduzindo e homem abastecendo a casa. Porém, refleti um pouco e imaginei que aquele pai também poderia ter visto outras garotas entre uma semana e outra. Se não transou com elas, aposto minha virgindade que ele se masturbou pensando nas nádegas jovens, enquanto sua esposa esperava com um riso no rosto para o jantar. Não quero desiludi-la, mas ele certamente teve algumas ereções com outras putas em mente. 

Desisti dessa história. Meu coração quase ficou apertado em pensar naquela fêmea sendo penetrada enquanto o pensamento selvagem do seu macho vagava em vaginas alheias. O romantismo ficaria de fora, sem lugar para as palavras bonitas daqueles autores clássicos. De qualquer forma, essa não foi a única abstração que me veio à cabeça para construir uma narrativa bonita, pura, sem tantos exageros dessa minha linguagem pervertida.

Outra faísca literária brotou em meu peito um dia desses. Observando dois adolescentes na inocência da descoberta do amor, pensei em como tudo isso é maravilhoso. A primeira vez que os nossos olhos brilham diante desse sentimento nobre é algo inesquecível. Seria realmente digno de algumas linhas, ainda que já tenham se passado tantos anos desde que experimentei essa sensação. Daria uma página de boas lembranças.

Olhando para a púbere parelha, recordei como adolescentes não têm tanta pureza. Na verdade, estão doidos para experimentar o gozo e entrarem de vez no mundo pervertido do sexo. Onde ficaria o lado belo, me questionei. Aquele garoto passando as mãos pelas partes íntimas da menina ainda inviolada. Depois, penetrando-a sem misericórdia, rompendo suas ligações com a infância até que sangre seu prazer. É um pouco insensível da minha parte, admito. 

Em meio à minha dificuldade para escrever algo que fosse ao menos razoavelmente tocante, sem mencionar a perversão da humanidade – ou quiçá a minha própria – resolvi rabiscar no papel qualquer imagem. Quem sabe o problema estivesse nas letras. Os traços de um coração foram surgindo na folha. Fiquei esperançoso de que o minha sensibilidade não houvesse se perdido completamente. 

Meio torto, o órgão acabou sozinho no desenho, sem nada que o completasse. Parecia mais um triângulo arredondado. Sem chances, conclui. Enquanto isso, me distraí com uma música no fone...   a canção dizia, em inglês e numa voz melosa – acompanhada pelo som de um violão  -  “only Love can save us now.”