O telefone tocou insistentemente, até uma voz eletrônica informar que a ligação foi direcionada para a caixa postal. Deve ser a centésima vez que tento falar contigo, e o silêncio é a única resposta do outro lado. Estes últimos dias foram estranhos, com essa confusão tomando conta de mim. Não é necessariamente tristeza, mas uma angústia misturada à ansiedade.
Queria poder escutar sua voz doce e calma novamente. Mas
acho que não mereço. Disse tanta bobagem para você. Sabe aqueles momentos em
que a gente caminhava juntos, entre um ponto e outro da nossa vida? Sinto falta
da sua presença, de te encher a paciência até ficar nervosa e comentar que não
iria falar comigo. A sua cara de brava me deixava ainda mais apaixonado. Fazia
tudo de propósito, para despertar algum sentimento no seu coração.
Nunca dissemos o que se passava em nossa cabeça. Teve um
dia, lá pelo fim do inverno, quando sentamos no banquinho de um parque e
você falou de um jeito sério comigo. Foram palavras de verdade, cortadas apenas
pela insegurança e o medo, facilmente percebidos nos teus olhos. Contou-me sobre
algumas mentiras que havia me dito e o quanto eu era importante para você.
Outro momento que não esqueço foi da noite quando bebemos
até ficarmos loucos. Depois você veio dormir comigo, timidamente. Deitado ao
teu lado, não sabia por onde começar. Primeiro dei um beijo na sua testa, pois
dizem que isso é sinônimo de respeito. Depois tentei te abraçar, mesmo eu sendo
todo desajeitado. Fomos quebrando as barreiras aos pouquinhos e, por fim,
fizemos amor como eu nunca tinha sentido.
O sabor da sua boca grudou na minha memória. O cheiro do seu
cabelo encaracolado ainda permanece em mim na forma da saudade. Ao mesmo tempo
em que aquele momento intensificou ainda mais a minha paixão, me deixando
perdido entre as suas curvas, parece que foi o instante no qual eu te afastei
de mim.
As semanas se passaram, eu sonhava em te beijar novamente e
poder te apertar entre os meus braços. Queria te proteger, ensinar coisas novas
e mostrar como eu via o mundo de um jeito bonito. Você disse “depois a gente se
vê”. A distância foi aumentando, a minha dor crescendo e você permaneceu em
silêncio.
De vez em quando a gente se encontrava, dizia algumas
palavras desconectadas, tentava desviar o olhar e seguia a vida. Eu arrisquei
te esquecer, procurei outros sorrisos. Mas sempre ao deitar é a sua imagem
que invade a minha cabeça. Persistente, te liguei sem parar nas últimas horas, deixei
dezenas de mensagens e o retorno foi, em todas elas, o vazio. Tão estranho ser
obrigado a apagar as esperanças do coração. Talvez esse espaço vago aqui dentro sirva para
cultivar alguma outra emoção...
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