Desde o início, eu só queria escrever um romance que não fosse
estragado. Daqueles com gente sorrindo, feliz e apaixonada. Mas confesso que
seria forçar muito a minha literatura moldada por experiências tão reais e cruas.
Talvez o que você espera seja mesmo um pouco de fantasia, para fugir dessa sua
vida cheia de desencontros.
Minha primeira ideia era retratar um casal à espera do
primeiro filho. Acho bonito isso de família, mulher reproduzindo e homem
abastecendo a casa. Porém, refleti um pouco e imaginei que aquele pai também
poderia ter visto outras garotas entre uma semana e outra. Se não transou com
elas, aposto minha virgindade que ele se masturbou pensando nas nádegas jovens,
enquanto sua esposa esperava com um riso no rosto para o jantar. Não quero desiludi-la,
mas ele certamente teve algumas ereções com outras putas em mente.
Desisti dessa história. Meu coração quase ficou apertado em
pensar naquela fêmea sendo penetrada enquanto o pensamento selvagem do seu
macho vagava em vaginas alheias. O romantismo ficaria de fora, sem lugar para
as palavras bonitas daqueles autores clássicos. De qualquer forma, essa não foi
a única abstração que me veio à cabeça para construir uma narrativa bonita, pura,
sem tantos exageros dessa minha linguagem pervertida.
Outra faísca literária brotou em meu peito um dia desses.
Observando dois adolescentes na inocência da descoberta do amor, pensei em como
tudo isso é maravilhoso. A primeira vez que os nossos olhos brilham diante
desse sentimento nobre é algo inesquecível. Seria realmente digno de algumas
linhas, ainda que já tenham se passado tantos anos desde que experimentei essa
sensação. Daria uma página de boas lembranças.
Olhando para a púbere parelha, recordei como adolescentes não
têm tanta pureza. Na verdade, estão doidos para experimentar o gozo e entrarem
de vez no mundo pervertido do sexo. Onde ficaria o lado belo, me questionei.
Aquele garoto passando as mãos pelas partes íntimas da menina ainda inviolada.
Depois, penetrando-a sem misericórdia, rompendo suas ligações com a infância
até que sangre seu prazer. É um pouco insensível da minha parte, admito.
Em meio à minha dificuldade para escrever algo que fosse ao
menos razoavelmente tocante, sem mencionar a perversão da humanidade – ou quiçá
a minha própria – resolvi rabiscar no papel qualquer imagem. Quem sabe o
problema estivesse nas letras. Os traços de um coração foram surgindo na folha.
Fiquei esperançoso de que o minha sensibilidade não houvesse se perdido
completamente.
Meio torto, o órgão acabou sozinho no desenho, sem nada que
o completasse. Parecia mais um triângulo arredondado. Sem chances, conclui. Enquanto
isso, me distraí com uma música no fone... a canção
dizia, em inglês e numa voz melosa – acompanhada pelo som de um violão - “only
Love can save us now.”
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