Angústia das Tardes de Verão



Os sentimentos não eram muito claros e Tarcísio não se esforçava para entendê-los, apenas sentia. Era algo confuso que lhe vinha ao coração ou à mente, de repente, e bagunçava todas as suas emoções. Uma vontade incontrolável de fugir de tudo e de todos que lhe olhavam na rua. Aqueles olhos a vigiarem constantemente. Mas o pior mesmo eram as vozes que o atormentavam todos os dias antes de o sol se por.

Jovem de boa aparência, aproximando dos 26 anos, ele não gostava de contar a ninguém, além de sua mãe, sobre suas visões de mundos invisíveis. Tinha medo que lhe chamassem de louco ou coisa assim. Não era loucura, apenas uma estranheza ainda sem explicações. Seus medos infantis que permaneciam ao redor, tal sombra para assustar em noites iluminadas pela lua. Sim, pareciam mais mistérios de contos assombrados o seu temor e alucinações.

Naquela tarde quente de sexta-feira, Tarcísio saiu do trabalho e foi caminhar um pouco, para espairecer as ideias. Ele trabalhava como porteiro, já que a vida não lhe dera tantas oportunidades. Na verdade, aquele passeio não planejado fora só mais uma forma de fuga. Há mais de uma semana que ele não dormia direito. Passava as noites em claro revirando-se de um lado para o outro da cama. Estava preocupado com algo, não sabia ao certo o quê, talvez fosse o futuro e suas inconveniências.

Andou por quase uma hora, enquanto ao longo do horizonte o sol corria lentamente para a profundidade do infinito que ele desconhecia. Dessa vez, as vozes não lhe tiraram o sossego. Somente o barulho dos carros na rua é que não o deixava esquecer de si mesmo. Quando já começava a escurecer ele percebeu que as sombras estavam voltando a cercar-lhe. Primeiramente de maneira sutil, depois como se o quisessem carregar. Ele teve medo. Não queria que elas o levassem.

Tarcísio correu desesperado pela rua. Gritava e procurava se esconder. Mas as malditas sombras estavam em todos os lugares, como demônios a lhe perseguirem. Não se entregaria tão fácil. Esbravejava e corria desesperadamente. Só parou quando os anjos de branco se aproximaram e expulsaram os monstros. Sentiu sono e dormiu em paz.

O rapaz acordou sete horas depois, já de madrugada e em casa. A mãe, ao lado da cama, o observava com olhos carinhosos e preocupados. Os problemas do filho sempre ficavam mais intensos nessa época do ano. E ele ainda insistia em não tomar os medicamentos regularmente. Foram três ataques em menos de um mês. Mas ela tinha esperança. Afinal, o verão haveria de ir embora em breve e, quem sabe, levaria consigo as angústias de Tarcísio.

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