Subtração lacônica


[... E eis que o pó transformou-se em uma matéria mais consistente e sólida, da qual seria feita a Criatura]. Rabiscou César em uma folha amassada de papel. Ele estava meio atordoado naquela manhã. Acordou pensando na lógica da existência. O que é a vida? Esta era a questão da sua dor de cabeça matutina. Além da interrogação, seu mal-estar também tinha outra explicação: ressaca [moral e física]. Dormira poucas horas, bebera muito na noite anterior e aprontou besteira.

Eram nove horas e trinta e sete minutos e mais alguns segundos. Havia quase meia hora que ele remoia em seus pensamentos os porquês psico-freudianos. Felicidade, vida, amor, saudade, lembrança, sonhos, morte. Tudo é relativo, como a física, a química, a biologia e todas as outras matérias da subjugação humana. Só a matemática continua com a sua lógica imoral. E o seu saldo emocional [matemática aplicada à psicologia], obtido com a aplicação da fúria e ciúmes diante de Júlia, era negativo. Estava em débito com quem mais amava por causa de umas poucas cervejas.

Não tinha sentido viver sem Júlia. Foi a conclusão a qual César chegou. Não queria levantar da cama e ter que enfrentar o mundo depois daquela briga. Resolveu dormir mais um pouco. Quem sabe quando acordasse perceberia que não se passava de um pesadelo. Aos poucos, pegou no sono novamente. Despertou somente às três da tarde com o toque do telefone. Era Marina, a melhor amiga de sua amada. Atendeu meio sonolento: “Oi”. Do outro lado da linha uma voz ofegante disse: “César, a Júlia se suicidou”. Ele desligou o telefone, levantou-se ainda mais confuso, abriu a janela de seu quarto e pulou. A força da gravidade o transformou em matéria [sem vida]. Mais alguns anos e ele voltará ao pó.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa.. to pasma... hehehe

mais uma cronica Maraaaaa

Bjus