Antes de ser acusado e preso por pedofilia, Pedro trabalhava duro. Era pedreiro e, modéstia à parte, se orgulhava das casas que ajudara a construir. Só lá em Luziânia, onde vivia, eram muitas as mansões das quais ele levantou as paredes. Mas aquilo não dava prazer à vida. Era algo que lhe cansava e no final do mês restavam contas a pagar e nenhum centavo no bolso. As coisas que ele gostava não podiam ser ditas, pois eram crimes que a sociedade condenava fervorosamente, quase num discurso religioso.
Quando foi condenado, em 2005, toda a cidade ficou sabendo de seus desejos secretos. Os olhos famintos das pessoas a lhe matarem em palavrões não era algo fácil de aguentar. Mas Pedro suportou. E sobreviveu até aos três estupros que sofreu na prisão. Os outros bandidos tiraram sua dignidade como se ele fosse um animal sem emoção. No fundo, houve um sentimento que mexeu com o coração. Não sabia ao certo se era ódio, prazer ou simplesmente reflexo da dor física e moral que sentira.
Agora que saiu da cadeia ele está mais esperto. Não vai deixar qualquer safado lhe botar atrás das grades novamente. É por isso que Pedro respira profundamente a cada passo que dá naquela estrada do subúrbio da cidade. Estar de volta às ruas, nos últimos dias, era algo que o pedreiro apreciava. Até o momento, não havia encontrado um emprego, pois quase ninguém quer contratar um ex-presidiário. Na verdade, também não procurou formalmente. Apenas perguntou para um dos novos vizinhos se sabia de serviços para pedreiro.
A tarde fazia o calor subir do chão com mais força naquelas terras goianas. Provavelmente, choveria ainda quando o dia não houvesse partido. E Pedro queria fazer alguma coisa que trouxesse felicidade antes que a noite chegasse. Qualquer bobagem das antigas, de preferência com os moleques mais inocentes, que são mais fáceis de pegar. Ele espreitou perto de uma escola, ali pela região onde alugou o barraco na semana anterior, logo após sair da cadeia. Era festa de fim de ano, já vésperas do ano novo, e todas as crianças estavam acompanhadas dos pais. Seria difícil encontrar pivetes sozinhos. Mas ele teve sorte.
Fabrício precisou deixar a conversa com os amigos e a pelada de futebol para outro dia. A mãe dele não estava muito bem de saúde. Por isso, o adolescente de treze anos teve que sair da festa na escola mais cedo, lá pelas quatro e meia da tarde. Pedro dos Santos o observou na saída. Seria uma boa vítima. Brício, como era chamado pelos colegas da sexta série, caminhou distraído pelo quarteirão, um lugar praticamente deserto que servia como depósito de lixo da comunidade. Cerca de cem metros do colégio, um homem lhe abordou.
Pedro sabia como agradar qualquer moleque, desde os pequenos até os já crescidos, de barba a aparecer no rosto. Tinha conversa fácil e convencia pela firmeza. Aproximou-se do menino calmamente, como quem precisa de uma informação. E assim fez. Apresentou-se como morador de Brasília e perguntou sobre como chegar ao Brejo dos Anjos, onde iria visitar uma tia. O garoto explicou, mas ele não entendeu. Fazia parte dos planos não compreender o caminho. Ofereceu 20 reais para o adolescente o acompanhar até as proximidades da tal casa.
As coisas não estavam muito fáceis com a mãe “de cama”. O pai falecido, há três anos, deixara apenas algumas dívidas. Fabrício desconfiou de início do homem, que aparentava ter quase cinquenta anos, mas acabou por segui-lo pela estrada até o brejo para ganhar a grana. Pela descrição, o local não era muito longe, aproximadamente uns mil e quinhentos metros dali. Enquanto caminhavam, o homem, que se apresentou como Antônio, lhe fez algumas perguntas. Ele respondeu prontamente.
Depois de andarem por cinco minutos, quando já estavam em uma região afastada da cidade, Pedro segurou o braço de Fabrício e disse para ele não gritar, pois só queria lhe mostrar algo especial. Assustado, o adolescente tentou se soltar, mas levou um soco no rosto antes de qualquer palavra completa. O golpe fez escurecer suas vistas. Sentiu outra pancada, desta vez mais forte e na nuca. Ficou tonto e foi derrubado facilmente. Pedro o arrastou até o matagal às margens da estrada e tirou a roupa rapidamente, arrancando também o vestuário do menino, que ainda não recobrara a consciência. O homem, como um animal selvagem, avançou sobre o corpo magro e com expressões infantis do garoto. Penetrou seu sexo rijo sem nenhum cuidado e escutou um leve gemido.
Após sentir-se satisfeito sexualmente, Pedro pegou um pedaço de madeira que estava ao lado e acertou cinco vezes a cabeça de Fabrício, que sangrava em várias partes pela violência do ato anterior. Não poderia deixar sinal algum da sua atitude, pensou o pedreiro enquanto cobria o corpo e um resto de vida com terra misturada de folhas das árvores. Alguns pingos de chuva começaram a molhar seu cabelo levemente, como se viessem lavar sua alma e a de mais uma vítima. Vestiu-se e arrumou o cabelo. Era necessário não descuidar de nada. Cinquenta metros depois, ele estava na estrada de volta para a cidade.
Pedro assoviava e caminhava debaixo da chuva. Em dois dias seria ano novo. Talvez encontrasse um emprego bom em alguma empresa de construção. Se tivesse sorte mesmo, poderia até voltar mais vezes ao Brejo dos Anjos para matar seus desejos sem que ninguém soubesse. Ele sentiu-se esperto, livre e corajoso por seu feito, como um guerreiro de filme de ação marchando na volta da guerra...
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