Luzes do futuro




Ela andava rápido e com firmeza, sem um sinal de hesitação, e não viu o carro se aproximando. Apenas sentiu o sangue vindo em sua boca, enquanto estava esticada, com os braços abertos selvagemente no asfalto. Luzes mais brilhantes que o Sol iluminaram os olhos. Seu leal cão farejava ao redor, latindo. De repente, tudo se transformou em preto e não conseguia ouvir mais nada. O mundo tinha sido estranho para ela. Seu sorriso triste permaneceu no rosto...

Van acordou se sentindo um pouco diferente naquela manhã. Era inverno e, embora o clima belo-horizontino não fique muito ruim, era um pouco difícil dormir debaixo de uma árvore. Especialmente quando se começa a ficar velho. Com a idade na casa dos 40, se sentia como uma anciã. Já se passaram três anos desde que deixou a casa. A mãe e pai tinham ido para o outro lado. Seu irmão era um traficante de drogas louco. Ela estava sozinha, deixada de lado. Pensando nessas coisas, viver nas ruas não era a pior das escolhas . Pelo menos podia comer todos os dias.

Era junho, a luz matutina atravessou as folhas das árvores e chegou ao seu canto. Ela pegou os trapos e cobriu a cabeça. Seria necessário levantar-se e ir em busca de um café da manhã. Mas não tinha vontade de fazê-lo. Então, decidiu dormir por mais algumas horas. Passava das nove horas quando o ruído do tráfego e as buzinas nervosas a acordou novamente.

Havia um restaurante perto da árvore onde fez sua casa. As pessoas eram gentis e amigáveis. Era lá que ela tomava café da manhã na maioria dos dias. Não naquela manhã. O local foi fechado e, então, Van teve que procurar outro estabelecimento que oferecesse café e algo para ela comer. Seu cachorro estava sempre ao seu lado, também à espera de alimentos .

Nem foi preciso andar muito. Cinco quarteirões da árvore havia um restaurante simples, com um gerente gentil, que lhe deu um saco com a refeição. A vida não estava completamente perdida. Van e o cachorro comeram abundantemente até que ficaram satisfeitos. Depois de comer, poderia finalmente começar o dia. Não havia muitas coisas para fazer, mas ela precisava lavar algumas roupas

A mulher pegou a bolsa com as roupas sujas, com cheiro acre, e foi até a fonte da praça. Os guardas poderiam escurrassá-la a qualquer momento. Assim, ela teria que ser breve na limpeza. Era apenas uma questão de minutos para lavar as três camisas, um casaco, duas calças velhas e uma saia. Essas eram todas as roupas que estavam sujas. E tinham sido usadas por um longo tempo.

Enquanto lavava suas coisas, Van aproveitou para tomar um banho. Foi bom entrar em contato com o líquido limpo. A água estava morna e ela pode sentir a vida se refrescando. Se fosse possível, provavelmente ficaria lá por todo o dia, imaginando que era uma praia. Na verdade, nunca tinha ido para o litoral, mas podia perfeitamente fantasiar como parecia. Porém, o momento de alegria foi quebrado pelos guardas. Levaram-na para longe do paraíso.

Junho foi sempre um bom mês, apesar de todas as noites frias. Van guardava em sua mente as boas memórias da infância, quando sua mãe costumava fazer chocolate quente com biscoitos para ela. Na verdade, podia sentir ainda o gosto em sua boca. Tempos felizes aqueles. Se sua mãe estivesse viva tudo provavelmente seria muito diferente. A vida fica difícil às vezes, quando você não tem uma família para te apoiar, pensou. Mas nada poderia mudar o que já tinha acontecido. Pelo menos tinha o seu cão como um parceiro.

Na hora do almoço, decidiu dar um passeio e ir ao seu antigo bairro para ver alguns velhos companheiros. Estava sentindo falta deles e não havia razão para a saudade, vivendo na mesma cidade. Quem sabe eles a ajudariam a conseguir um emprego e começar uma nova vida. As ruas eram legais, toda a liberdade. Mas ser livre não é tudo o que uma mulher precisa para viver feliz. Então, Van empacotou suas tralhas e marchou avante.

Todos esses pensamentos em sua cabeça já estavam lhe transformando em uma sonhadora. E sonhos são armas perigosas. O futuro poderia ser melhor. Talvez ela seria até capaz de economizar dinheiro suficiente para alugar uma casa. Imaginar essa possibilidade produziu uma lágrima em seus olhos. Se passou um bom tempo desde que ela chorou pela última vez. Foi provavelmente no funeral de sua mãe. Mas ela estava confiante de que este dia seria o seu dia. Distraída, ela começou a atravessar a avenida e não percebeu que as luzes estavam vermelhas para os pedestres... (Baseado em um caso real)

Nenhum comentário: