Trilogia do Tempo em Giro - Coisas que acontecem por aí



Antônio começou a trabalhar um pouco mais tarde naquela noite, às nove horas. Como taxista, era preciso ralar duro para conseguir sustentar a família. Sua mulher estava desempregada há oito meses e arrumava apenas uns bicos de vez em quando. Dos três filhos, dois se casaram e um ainda morava com ele. Geralmente, o homem já de longa data, prestes a completar 56 anos, saía de casa por volta das seis e retornava apenas no dia seguinte. Trabalhar durante a noite era perigoso, mas essa foi a maneira que ele encontrou pra ganhar uns trocados.

O táxi não era novo, tinha mais de cinco anos de uso continuo. Fora comprado por meio de um financiamento, quitado recentemente. O carro e a pequena residência em um dos bairros distantes da cidade foram os bens que Antônio conseguiu adquirir em muito tempo de trabalho. Além da família, algo de estima para aquele homem. Ele suou bastante até hoje para manter a ordem em tudo e não se desesperar diante de tantos problemas em casa. Brigas com a esposa, falta de educação dos filhos e necessidade de dinheiro. Essas e outras coisas que acontecem nas famílias.

O motorista dirigiu o veículo pelo centro da cidade em busca de passageiros. Um aqui e outro ali iam desenhando o seu trajeto de taxista. Nesta vida, ele conheceu cada canto das ruas mais vazias. Percorreria de olhos fechados qualquer lugar que necessitasse dentro da linha do município. Isso lhe deixava com ar de felicidade, pois acreditava representar a sua capacidade em ser um bom trabalhador do volante.

A noite não estava muito boa. Apesar de ser sexta-feira, o movimento era pouco. Em seis horas de trampo ele conseguiu ganhar somente 140 reais. Se descontasse o valor do combustível e as taxas extras que pagava pela prestação do serviço, sobraria menos de 80 reais. Nos últimos meses tem sido difícil trabalhar, pois a concorrência é grande. A esperança de Antônio é que no final da noite o número de viagens aumente, quando as pessoas começam a voltar para as casas depois das festas e bebedeiras.

Das três da madrugada até as seis o taxista fez mais alguns trocados. Seria o suficiente para passar bem os dois próximos dias. Por volta das cinco e meia ele pegou o último cliente em uma boate e foi levá-lo. O garoto era conhecido de outras viagens de fim de noite. Podia ser sorte do motorista o passageiro morar longe. Isso significava corrida mais cara e lucro certo. Foram 45 minutos até o condomínio onde vivia o jovem, que fedia a cigarro e dormiu metade do trajeto. Dinheiro na mão, Antônio pegou a rodovia para cortar caminho e chegar em casa mais cedo.

Pela estrada ele ouvia no rádio as primeiras notícias daquele sábado e se sentia bem, apesar do cansaço e do sono. Instantes depois de pegar a rodovia, uma puta deu sinal e Antônio resolveu parar. Não era nenhum programa e ele sabia disso. A garota de olhar triste estava indo descansar após uma noite de trabalho. No táxi eles quase não se falaram. Vez ou outra o homem olhava pelo retrovisor as pernas longas e torneadas da rapariga. Ela devia ter vinte e poucos anos e parecia ser boa de cama.

Os olhares foram percebidos e a moça se insinuou. Não era possível agüentar a provocação, afinal ele era homem. Além de tudo, prostitutas estão sempre prontas e loucas por um sexo quente e gostoso. Antônio não resistiu e meteu como um cavalo nela em um motelzinho barato ali perto mesmo. Terminado o serviço, deixou-a numa rua do centro e foi embora tomar o café da manhã com a esposa e o filho.

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