Liberdade inCondicional

















Liberdade inCondicional

Depois de “devorar” o livro Liberdade inCondicional, da Rina Bogliolo Sirihal, eu não poderia deixar de dizer o quanto fiquei maravilhado. A autora tem uma capacidade enorme de se tornar cúmplice do leitor. Com uma linguagem simples, mas ao mesmo tempo inovadora e sofisticada, Rina conseguiu despertar em mim um desejo enorme de também deixar que gritem os silêncios escondidos em mim. O texto abaixo é apenas um trecho, confira o livro todo e permita-se sonhar em silêncio e viver outras emoções.
Milson Veloso

OS SILÊNCIOS SE DESPEDEM

“... Pois o mais esquisito de tudo é quando se observam todos quantos inventam teorias acerca do universo e da vida. E a necessidade de acreditarmos em contos de fadas? E a preocupação em negar que nossa cabeça confusa é de fato confusa e dela não sairá idéia que esclareça o motivo da confusão? E esta tendência, agora, de psicologias e neurociências com os profissionais do ramo a estudarem mentes alheias porque as suas não se explicam? É que essas gentes não têm só de inventar tapa-buracos como têm de berrar ao mundo suas invenções. E o motivo é que o silêncio em torno do inexplicável é tão gritante que ninguém, absolutamente ninguém quer ouvir grito de desamparo de silêncio algum. Pois é por isso que dá-lhe a gente de inventar coisa muito esquisita, cada bobaaagem..., e dá-lhe a obsessão de querermos ser, todos, indivíduos verdadeiros. De pensamentos e sentimentos verdadeiros. Assim, as vozes nossas abafam o grito do silêncio a dizer sempre que a coisa não tem sentido, não. Não tem sentido... não tem sentido... não tem... não tem... não...

Vai que enveredam uns pela arte; e a combinação de cores, ou de sons, ou de palavras lhes provoca prazer. Vai que há pessoas que dedicam-se à política e querem crer, e fazer crer, que estão no mundo para organizar as nações em que vivem e ajudar os bons nesta tarefa difícil que é sobreviver. Vai que há os que curvam e até discutem pela religião. Há um deus que, em algum momento, olhará por nós, dizem essas pessoas. E consolam-se com tal idéia mesmo vendo o que vêem de injustiça ao seu redor. Vai que outros optem por trilhar os caminhos do humor. Começam por se acreditar viventes bem-humorados, simpáticos. Mais um passozinho só adiante e, de repente, estão a rir e fazer piada dos outros, e da sociedade também, pois dizem ter a certeza de ser o riso o melhor remédio num mundo de amarguras e injustiças. Há até os que afirmam ser o riso bom para a pele.
Arte, filosofia, política, religião, humor – atitudes infantis vividas como se sublimes fossem. Alternativas criadas pelo cérebro do ser humano, que conhece tão somente as coisas que não o afetam. Dissimulações de nossa perplexidade diante do puro mistério. Tentativas de mostrar como inverídico nosso dilema de sermos prisioneiros dos nossos próprios sentimentos e pensamentos. Assim se engana a si mesmo o enganado, dizia Zaratustra...”

Rina Bogliolo Sirihal
Liberdade inCondicional

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