"Escrever é uma percepção do espírito. É um trabalho ingrato que leva à solidão." Blaise Cendrars
O atrevido e a virgem [no Paraíso]
...E eis que o moço desconhecido chegou para Judite, sentada ali no banquinho diante da porta de casa [em sua insignificância] e perguntou sem amarras:
- Você ainda é virgem, dona?
Quanto descaramento! Pensou a moça, com seus trinta e dois anos e a virgindade emprenhada nos órgãos de reprodução [e na mente].
- Como você se atreve?
Foi a única coisa que Judite conseguiu falar, avermelhada que estava em sua castidade de moça do interior. Mas o rapaz não se conteve.
- Alguém já conheceu sua virgindade?
Ele queria saber a verdade, pois acreditava que não existiam mais mulheres virgens no mundo. Loucura da cabeça daquele pivete, que tinha só seus quatorze anos e se achava esperto demais. É que ele, na noite anterior, sonhara que tinha uma missão: casar-se com a última virgem da Terra. Mas, quando contou isso para o melhor amigo, ouviu este dizer:
- Besteira, isso não existe mais? Nem aqui nem na China...
Mas, e se fosse realmente um fato a se consumar? E se ele tivesse uma importante missão a cumprir, de desvirginar a última pura do paraíso? Resolveu sair à procura de alguém. Qualquer pessoa que [de cara] parecesse virgem. Foi aí, alguns minutos após colocar os pés na rua, que o pivete viu aquela moça solitária [com jeito de quem nunca deu] sentada na porta da casa e resolveu perguntar. Afinal, não era nenhuma ofensa, ainda mais porque ele estava cumprindo uma missão. As pessoas precisam entender isso!
- Isso é uma ofensa, seu pirralho!
Respondeu. Com o rosto mais vermelho ainda. Essa foi a segunda e última resposta de Judite, que sentiu seu corpo arrepiar-se todo e uma sensação estranha percorrer suas pernas e entrar pela espinha dorsal. Como um desconhecido se achega assim e vai logo tocando em assuntos que são de intimidade? Pegou seu banquinho e entrou para a casa, fechando o portão em seguida. Nem sequer ouviu as últimas palavras do garoto, que tentava explicar os motivos de suas perguntas.
- É porque eu tenho que encontrar...
O menino atrevido viu que poderia estar ali sua virgem. Porém, achava realmente que aquilo era uma loucura. Apesar de não saber que não é normal uma pessoa sair perguntando pras outras sobre suas relações sexuais ou acerca da inexistência delas. Resolveu então voltar pra casa e refletir mais um pouco a respeito da missão. Talvez fosse apenas uma loucura. Afinal, ele tinha estado meio confuso nos últimos dias, pensando em coisas que não se justificam. O menino estava ficando louco [e deixou louca a última virgem do paraíso].
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Um comentário:
ops! arrepiou?
PS sumiu meu amigo.
ab
M
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