"Escrever é uma percepção do espírito. É um trabalho ingrato que leva à solidão." Blaise Cendrars
Dúvidas do Rei
- É verdade que o sol é de fogo, papai?
Perguntou, naquela tarde de setembro, o pequeno César ao seu progenitor, Armando. Não que o homem já feito não soubesse responder, mas achou inútil aquela explicação. Apenas disse:
- Sim...
O garoto continuou curioso, mas o pai demonstrou que não estava para papo-furado. Então, César resolveu ir averiguar com as próprias mãos as demais curiosidades sobre as peripécias da natureza. Pena que não conseguia testar todas. Por exemplo, sempre quis saber se as nuvens eram de algodão, se as estrelas eram vaga-lumes ou vice-versa. De tudo o que tinha vontade de saber, a única coisa que descobriu de imediato é que as borboletas são mesmo lagartas. Para tanto, arrancou as asas de alguns insetos desta espécie e constatou ser verídico o fato.
César tinha vocação pras ciências do mundo natural, tipo biologias ou astronomias ou, ainda, veterinária. Mas ele nunca soube disso, pois era pequeno. Nessa época em que surgiam as dúvidas quanto aos seres, ele era apenas um pirralho com seus quatro ou cinco anos - e os catarros a escorrer pelo nariz. Era de praxe, todos os dias, sair pelo jardim que havia em frente a casa para captar algum besouro, alguma minhoca - algum vivente indefeso e distraído - para lhes pregar torturas dos estudos da infância.
O menino da casa de número 879 - inscrição já apagada pelo tempo - queria ser rei. Escutara em algum lugar, certa vez, que ser rei era coisa boa. Poderia ser o rei do jardim, apesar de não saber exatamente o que era Ser. Já até construíra alguns castelos de terra e gravetos, como os que vira nas gravuras de um livro. César tinha nome de rei, embora não entendesse de reinado, república ou abstração política alguma. Era seu destino governar o mundo, de sua imaginação.
Como já se sabe, naquela tarde de setembro surgiram novas indagações na mente do rei, que procurou prontamente de esclarecê-las. Foi então buscar alguns equipamentos necessários a sua pesquisa – nada de muito sofisticado, somente alguns apetrechos que se encontra em qualquer quintal. Tratou de captar as espécies a serem avaliadas e as levou pra debaixo da mangueira que começava a florir. Lá, decepou metade dos bichos e liquidou o restante. Foi nesse dia que ele soube das lagartas que se disfarçam com asas pra poderem voar. Era incrível como conseguiam aquela façanha. Maravilhado, César acreditou ter feito a maior descoberta de sua vida – mas ainda persistiam outras dúvidas. Uma delas ele não perguntou a ninguém: era possível ter asas - voar? Essa indagação foi pedaço pergunta e pedaço resposta ao Rei...
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Um comentário:
gostei demais do novo visual! e o texto, como sempre, cada dia mais aprimorado, conciso naquilo que quer comunicar.
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