O sexto cesto (para uma crítica social)


Na feira, ele ficava sempre por baixo,
Esperava que alguém lhe comprasse.
Queria ir pra casa e ter um dono,
Mas não passava de um cesto.

Um sexto pode ser muita coisa,
Quando não se é simplesmente cesto.
Pois, sexto é maior que cinco,
Mas cesto já não tem mais utilidade.

Minha mãe, certa vez, comprou um cesto.
Meu pai brigou: “foi-se um sexto do nosso dinheiro”.
Essas coisas acontecem - sexto e cestos não se dão.
É por isso que ele, aquele cesto, sempre ficou ali.

Sua maldição era ser o sexto cesto que havia na feira.
Coitado, ninguém o comprava.
No fim do dia, já cansado, voltava pro monte dos cestos,
Aquele lugar imponente de onde poderia ver todo o mercado.

Descia do monte pra ficar embaixo novamente,
No seu devido lugar.
Cestos não têm direito à palavra,
Obedecem e se calam, em sua insignificância.

Ninguém sabe ainda,
Mas, um dia, esse cesto fará a revolução.
Pode até ser que se transforme em celebridade ou herói.
E se tornará o dono da feira.
(Porém, nunca mais será vendido e não terá uma casa, nem um dono).

Um comentário:

Kellen Santos disse...

O cesto soube enfrentar o desafio que a vida o propôs. Richard Bach afirmou uma vez que : "Não é o desafio que define quem somos nem o que somos capazes de ser, mas como enfrentamos esse desafio: podemos incendiar as ruínas ou construir, através delas e passo a passo um caminho que nos leve à liberdade". O cesto escolheu o melhor para si, a liberdade. Soube se sobressair sobre os melhores...