O Caso da Sorte


Camila atravessou a rua rapidamente. O sinal estava fechado e ela corria para não ser atingida por algum veículo em alta velocidade. Eram oito horas e doze minutos da manhã de uma segunda-feira e sua sorte, como dizia no horóscopo que acabara de ler no jornal, não era muito boa. A conjunção de lua e saturno, ou de qualquer outro planeta - pois disso ela não entendia patativa alguma - determinava que seu dia seria de confusões.

Camila acordara às 6h40 da manhã nessa segunda, somente quarenta minutos de atraso. “Isso não é muito tempo!” Pensou consigo mesma enquanto corria dentro do banheiro para se pentear e escovar os dentes simultaneamente. Faltava pouco mais de uma hora para o seu horário de serviço. E seriam bons quilômetros de congestionamentos de sua casa ao centro da cidade, onde trabalhava.

Camila perdeu o ônibus das 7h, por poucos minutos. Quando chegou ao ponto, o veículo acabara de sair. Bem que ela até correu, mas não o alcançou. “Tudo bem, em alguns instantes virá outro e outro e outro...” Enquanto isso o relógio continuava sua tarefa de colocá-la ainda mais ansiosa. O próximo coletivo demorou quase vinte minutos e veio lotado. Com um pouco de sufoco e muito desconforto, ela conseguiu chegar ao centro da cidade, por onde agora corria até o edifício de sua empresa.

Camila não percebeu a moto que vinha em sua direção, quando atravessou a rua. Não se machucou com gravidade no acidente. Fora atingida levemente e apenas caiu. Não prestou atenção nos palavrões que o motoqueiro lhe disse, apenas se levantou rapidamente e continuou a correr. Ainda tropeçou pelo menos umas três vezes pela calçada e trombou com outras tantas pessoas desconhecidas que lhe reclamavam sem resposta.

Camila chegou, finalmente, ao prédio em que trabalhava. Chamou pelo elevador. Entrou. Suava bastante por causa da corrida com obstáculos que praticara. Poderia muito bem ser uma esportista, se não tivesse escolhido estudar a advocacia, o direito e as leis. Parecia até Lei de Murphy, mas o seu dia não era dos melhores. 21 anos de idade, emprego de telemarketing para pagar a faculdade e toda essa confusão.

Camila não era muito de acreditar em esoterismo, mas naquela segunda-feira as coisas até que iam ao encontro da mensagem que lera. Pouco depois de entrar no elevador que a transportaria ao sétimo andar, a energia faltou. Não a energia dela, que já tinha praticado todos os esportes pela manhã. Era a energia que fazia a máquina funcionar mesmo. Pensou que não deveria ter levantado da cama. Maldito horóscopo. Se soubesse que seria demitida alguns minutos depois, talvez nem tivesse enfrentado tantas coisas pra chegar até ali. Camila é uma menina de sorte, o problema foi ter lido sua má sorte.

2 comentários:

Nayara .NY disse...

Será que tudo é uma questão psicológica?
Muitas vezes é, de fato!
Que sejamos mais otimistas então!

Bjosss

iILÓGICO disse...

Milson muito bom, cara! É isto, ler muito e escrever mais ainda.