"Escrever é uma percepção do espírito. É um trabalho ingrato que leva à solidão." Blaise Cendrars
Solitária
Consigo ainda ouvir o leve barulho dos teus pés ao subir a escada – devagar - para não me acordar. Você não sabia, mas eu sempre estava acordada a esperar por teu beijo silencioso de boa noite. Talvez nunca saiba, se não ler este meu diário, que eu respondia bem baixinho, “boa noite”. Você vivia muito cansado por causa dos afazeres do trabalho e não percebia, mas eu esperava, com meus desejos de mulher, por algum carinho a mais, além do beijo de boa noite.
Hoje resolvi escrever isso, pois sei que, pela primeira vez nesses últimos 12 anos, você não vai voltar, não vai subir as escadas com passos leves e nem vai me beijar antes de dormir. Aqui no meu canto de esposa solitária, tento recompor os pedaços que ficaram de nossas lembranças. Também procuro uma razão para o fim dessa história, que sonhei um dia terminar com um “feliz para sempre”. Nunca soube que contos de fada não acabam na última página. Quem sabe tenhamos mais um momento de recompor esses passos. Por enquanto, ficarei aqui a esperar, até que a noite passe. Amanhã pode ser um dia diferente. Será (?)...
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Um comentário:
Sempre quis saber o que acontece com os personagens depois do beijo final e do "e viveram felizes para sempre" a que felicadade se refere quem conta a história?
Ouvi os passos subindo vagorosamente as escadas, deu uma sensação de filme de suspense!
Muito boa soa descrição e capacidade literaria
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